Depois do milho e do arroz, o trigo é o cereal mais cultivado no mundo. Usado em inúmeras receitas, esse grão vem ajudando a combater a fome da humanidade há milênios. Dele são extraídas duas formas de farinha: a branca e a integral. Com isso, muita gente ainda pergunta qual a diferença entre esses dois ingredientes. Segundo informação da empresa alimentícia Mondeléz, a farinha de trigo integral é composta por três partes do cereal: endosperma (aproximadamente 83% do grão); gérmen (aproximadamente 3% do grão); e farelo (aproximadamente 14% do grão). Por outro, a farinha branca não traz todos esses componentes, tendo, na maioria das vezes, apenas endosperma (tecido que nutre o embrião da planta). Segundo informação da empresa alimentícia Mondeléz, a farinha de trigo integral é composta por três partes do cereal: endosperma (aproximadamente 83% do grão); gérmen (aproximadamente 3% do grão); e farelo (aproximadamente 14% do grão). Por outro, a farinha branca não traz todos esses componentes, tendo, na maioria das vezes, apenas endosperma (tecido que nutre o embrião da planta). Considerado um dos alimentos de origem vegetal mais completos, o consumo de cereais integrais contribui para o aumento da ingestão de fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes, sendo a farinha integral considerada um ótimo substituto da versão branca. Conforme dados da Associação Americana do Coração, os grãos integrais têm grande parte de seu conteúdo formado por fibras e compostos bioativos no farelo e no germe. Possuem também antioxidantes, vitaminas e minerais que ajudam a melhorar a circulação do sangue e contribuem para o controle dos níveis de açúcar no organismo. Os cereais são essenciais também para quem opta por seguir uma alimentação equilibrada. Isso porque fornecem prebióticos, que são aliados de quem sofre de prisão de ventre, por exemplo. Outra curiosidade sobre o trigo é que estudos da Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, mostram que o consumo de cereais integrais trazem benefícios no controle de doenças crônicas. De acordo com os pesquisadores, o consumo pode reduzir em 25% problemas cardíacos, além de beneficiar também pessoas com diabetes do tipo 2.
Existe uma falsa impressão de que comer ovos é perigoso. Mas isto não é verdade: ao contrário, os ovos são saudáveis e seguros.
Ovos são uma boa fonte de proteína e contêm as vitaminas A, D e E, B12, riboflavina e folato, além de minerais como iodo, ferro, cálcio, zinco e selênio.
Além disso, a maioria das pessoas pode comer vários ovos por dia sem que isto afete seus níveis de colesterol.
Eis aqui o que acontece com o seu corpo se você comer dois ovos por dia, todos os dias!
Shutterstock
A gema do ovo contém colina, um aminoácido fundamental para a transmissão de pequenos impulsos nervosos que nos ajudam a lembrar de detalhes como onde pusemos as chaves do carro, ou onde deixamos o celular, por exemplo.
Estudos mostram que adicionar colina à dieta melhora a memória e a capacidade de reagir rapidamente.
A visão melhora
Shutterstock
Pesquisas mostram que os ovos são ricos em luteína, vitamina que ajuda a manter a visão apurada e clara.
A luteína é naturalmente encontrada nos olhos. Ela protege a retina dos efeitos nocivos do sol e reduz os riscos de catarata.
Ossos e dentes ficam mais fortes
Shutterstock
Ovos são ricos em vitamina D, que regula os níveis de cálcio e fósforo no sangue.
Comer ovos também ajuda o corpo a absorver cálcio, o que dá mais força aos ossos e previne a osteoporose.
A pele, o cabelo e o fígado ficam mais saudáveis
Shutterstock
A deficiência de folato é comum em mulheres que não ingerem a quantidade necessária deste tipo de vitamina B.
Felizmente, os ovos são uma boa fonte desta vitamina. O folato ajuda a metabolizar aminoácidos necessários para a divisão das células e a formação das células vermelhas do sangue.
O risco de doenças cardíacas diminui
Shutterstock
Um grupo de pesquisadores canadenses descobriu que existe uma ligação entre a alimentação rica em ovos e a redução do risco de doenças cardiovasculares e câncer. A pesquisa foi publicada na Science Daily.
O segredo é que a gema do ovo contém dois antioxidantes importantes: triptofano e tirosina.
A perda de peso fica mais fácil
Shutterstock
Pesquisadores americanos concluíram que comer ovos no café da manhã, quando se faz uma dieta de baixa caloria, acelera a perda de peso em até duas vezes.
Outra boa notícia? Os ovos dão uma sensação de saciedade que dura bastante tempo. Então, é mais fácil não cometer aqueles deslizes entre as refeições – o que certamente ajuda na perda de peso.
O envelhecimento desacelera
Shutterstock
Ovos contêm aminoácidos que constróem e renovam as células.
Conforme envelhecemos, nossa necessidade de vitamina D aumenta. A recomendação para pessoas com mais de 60 anos é de 10 microgramas. Um ovo contém aproximadamente 0,7 microgramas de vitamina D.
O sistema imunológico fica mais forte
Shutterstock
Quer ficar saudável? Coma ovos! Estudos já mostraram que apenas dois ovos por dia são capazes de proteger de infecções, doenças e diversos vírus.
Um ovo contém 22 por cento da dose recomendada de selênio, que fortalece o sistema imunológico.
As chances de engravidar aumentam
Shutterstock
A vitamina E, que é naturalmente encontrada nos ovos, melhora a saúde do esperma nos homens. Nas mulheres grávidas, a vitamina E é encontrada no fluido que cerca o embrião, explica a revista Parents.
A deficiência de folato, que também pode ser encontrado nos ovos, pode causar anemia. O folato é fundamental para o desenvolvimento dos bebês durante a gravidez.
Você podia já saber que os ovos faziam bem à saúde, mas tinha noção de que eram tão importantes e benéficos?
Por favor, compartilhe esta informação com os seus amigos de Facebook, para que todos possam aprender sobre como os ovos são beneficiais à saúde!
A questão da conservação da diversidade biológica do nosso país é muito séria, já que é o suporte principal do desenvolvimento nacional, se é que este pretende chegar a ser sustentável.
Nós somos os protagonistas de um tempo chave para a história de nossos povos, pois temos de decidir quais espécies e ecossistemas deixaremos para as futuras gerações.
O aumento exponencial de possibilidades tecnológicas capazes de modificar o ambiente, junto ao crescimento contínuo da população, exige ter muita prudência e inteligência na hora de tomar decisões relacionadas com a autorização de qualquer projeto de desenvolvimento.
Não é nada fácil apoiar projetos que melhoram diversos aspectos da vida das pessoas e, ao mesmo tempo, salvaguardar a integridade dos ecossistemas que compõem o nosso país.
Nisso reside a essência, de que qualquer investimento de recursos humanos e financeiros que é correto devee promover o bem-estar presente e futuro.
E dizemos que não é fácil conseguir, pois as ações sempre tem sido a toma de decisões feita em áreas estanques, priorizando olhares especializados, que perdem de vista "o todo" para se concentrar somente em alguma das "partes".
Felizmente quando se analisa um projeto de desenvolvimento, fica visível que esta situação está mudando. Estamos ficando cada vez mais dispostos a ouvir e considerar outras visões da realidade que enriquecem e melhoram as propostas, e também nos avisam sobre as possíveis consequências negativas em áreas não tão visíveis à primeira vista, assim como os danos que poderiam ocorrer ao longo tempo, devido à interligação complexa de todos os elementos do tecido natural e social de um lugar.
Dada a elevada complexidade da realidade não há dúvida de que se precisa, como nunca antes, conseguir a maior participação e cooperação possível de todos os atores que, direta ou indiretamente, se verão envolvidos em um empreendimento.
Por isso importa tanto promover o empoderamento e a governança como parte de um processo de maturidade social.
Sabemos que é uma tarefa difícil, árdua e, em certos momentos, estressante, mas isso deve ser feito, pois esta nos levará por um caminho de maior sabedoria e justiça.
A concentração de poder e exclusividade das ideias têm sido muito péssimas conselheiras no passado.
E embora saibamos que sempre há traumas e dificuldades quando se impulsiona mudanças significativas na tomada de decisões, estas devem ser consideradas uma parte natural do crescimento.
Nosso país está num ponto de inflexão e deve tomar decisões importantes que afetarão o futuro de muitas gerações: quanto mais avançarmos na mudança da matriz energética nacional para fontes de energia renováveis; quando decidiremos proibir explicitamente práticas de mineração que prejudicam a qualidade de nossos ecossistemas; quando enfrentaremos uma luta eficaz " sem misericórdia" contra a erosão em todo o país; quando protegeremos fortemente a qualidade das águas doces superficiais e subterrâneas; quando garantiremos a conservação das nossas espécies nativas, que servem como o apoio essencial dos ecossistemas.
Latifundiários jogam agrotóxicos nas aldeias para atacar indígenas
Um estudo realizado pela pesquisadora de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo, Larissa Mies Bombardi, chamado de Atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Européia”, aponta os casos de intoxicação da população indígena do País com os chamados agrotóxicos.
Os agrotóxicos são produtos utilizados pela agricultura para controlar pragas e doenças das lavouras, e muitos são altamente tóxicos, causando câncer e problemas no sistema nervoso. No estudo a pesquisadora levantou todos os casos registrados de indígenas que sofreram intoxicação por esses produtos e o resultado é assustador.
Os Estados de Santa Catarina, com 27 registros, seguido do Paraná, com 17, Mato Grosso do Sul, com 12, Minas Gerais (7), Espírito Santo (4) e Bahia (1). O que chama a atenção que é os Estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, são estados onde existem grandes conflitos de terras entre latifundiários e indígenas que lutam pela demarcação de suas terras. E não é por coincidência que isso ocorre. Assim como casos de atropelamentos em estradas em indígenas no Mato Grosso do Sul é uma prática recorrente e reconhecida de violência contra os indígenas realizada pelos latifundiários, o uso de agrotóxicos também pode ser considerado a mesma situação. É uma prática corriqueira dos latifundiários conforme denuncias do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e do Ministério Público há anos.
São casos em que os latifundiários jogam venenos de avião, com tratores e nos rios utilizados pela comunidade indígena. O descaramento dos latifundiários é tanto que realizam essas ações durante o dia, mas muitos latifundiários agem de maneira sorrateira e atacam as aldeias no período noturno. Fato que leva aos indígenas a sofrerem as conseqüências e não suspeitarem dos motivos.
A pesquisa revelou que a maior parte dos casos ocorrem em crianças e jovens, segundo os dados de Larissa Bombardi, houveram 343 notificações de contaminação por agrotóxico em crianças e jovens indígenas em Mato Grosso do Sul, sendo de 20 a 25% dos casos analisados.
Esses casos tem que ser amplamente divulgados e denunciados por todas as organizações sindicais e partidárias. Os latifundiários estão atacando os indígenas pois estão se sentindo a vontade devido a carta branca do governo golpista e das arbitrariedades do judiciário.
A geógrafa Larissa Mies Bombardi fala sobre a legislação que regula estes produtos no Brasil e defende uma agricultura sem agrotóxicos
O Brasil ocupa o primeiro lugar na lista de países que mais consomem agrotóxicos. O uso massivo desses produtos é explicado por uma economia que exporta commodities em grande escala, em especial a soja, e um modelo de agronegócio baseado em grandes extensões de terra produzindo poucas culturas.
Nos últimos cinco anos, a geógrafa Larissa Mies Bombardi tem se dedicado a estudar o impacto do uso dos agrotóxicos no país, em especial a partir do mapeamento dos casos de intoxicação – segundo a professora, de 2007 a 2014 foram notificados 1186 casos de morte por intoxicação com agrotóxicos.
Coordenadora do Laboratório de Geografia Agrária da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Larissa comenta o Projeto de Lei em tramitação na Câmara que concentra no Ministério da Agricultura o controle do registro dos agrotóxicos, responsabilidade que hoje é compartilhada com órgãos dos Ministério da Saúde e do Meio Ambiente. A pesquisadora fala também sobre como os recentes casos de microcefalia associados ao vírus zika podem acabar contribuindo para a aprovação de medidas que autorizam a pulverização de áreas urbanas com agrotóxicos para o combate ao mosquito.
Larissa Mies Bombardi | Foto: Cecília Bastos
Qual o foco da sua pesquisa sobre o uso de agrotóxicos no Brasil?
Larissa Bombardi: Minha área de atuação é a geografia agrária, então tenho discutido uma questão maior do que o agrotóxico enquanto um elemento de saúde pública. Ela envolve a questão agrária, o papel da agricultura na economia brasileira. Para você ter uma ideia, nossa pauta de exportação hoje virou do avesso do que era no final dos anos 90, começo dos anos 2000. A gente vinha, durante a ditadura, num processo em que os produtos básicos tinham menor importância nas exportações brasileiras do que os industrializados. Depois, em 1978, 1979, há um marco porque isso começa a se inverter e esse processo acontece até o início dos anos 2000, quando há então uma inflexão nas curvas e a gente passa a exportar muito mais produtos básicos do que industrializados. Os básicos não são só os produtos agrícolas, entram aí também minério de ferro, petróleo e outras commodities, mas a soja é o principal produto exportado pelo Brasil. Então falar de agrotóxico não se restringe ao âmbito da agricultura, mas a algo muito maior, porque tem a ver com o modelo de inserção do Brasil no que a gente chama de economia mundializada. É uma escolha, é um papel que o Brasil exerce no mundo. Somos o maior exportador mundial de açúcar, carne, gado, carne de frango, fumo, laranja, café….esse pacote monocultor, em grande escala, demanda muito agroquímico. O Brasil hoje consome um quinto dos agrotóxicos utilizados no mundo. O que eu tenho feito é mapeado o uso e os casos de intoxicação por agrotóxicos para entender o que há por trás desses números, e isso tem uma relação direta com o modelo econômico que o país tem adotado.
Onde estão disponíveis os dados sobre mortes e intoxicações por agrotóxicos?
LB: Estão no Ministério da Saúde, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). De 2007 a 2014 tivemos 1186 casos de morte por intoxicação por agrotóxicos, ou seja, 148 por ano, um a cada dois dias e meio. É um dado muito alarmante. Se focarmos nas crianças, numa faixa etária de zero a 14 anos, nesse mesmo período, tivemos 2181 casos de crianças intoxicadas, é muita coisa. O que é mais grave ainda é que dessas, 300 crianças entre 10 e 14 anos cometeram tentativa de suicídio. Temos vários estudos no exterior e no Brasil também que mostram a conexão entre tentativa de suicídio e exposição crônica a alguns agrotóxicos. Outro dado chocante que vale a pena mencionar é que também nesse período de 2007 a 2014 mais de 300 bebês de zero a menos de um ano foram intoxicados com agrotóxicos. Quando estamos numa realidade em que bebês se intoxicam, temos a noção da ponta do iceberg que é essa questão. Como isso é possível? Isso tem a ver com a condição de trabalho dos pais, com pulverização aérea, proximidade das casas em relação às áreas de utilização de agrotóxicos…
Calcula-se que para cada caso de intoxicação no Brasil existam 50 outros não notificados
A Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] também tem esses dados, inclusive ela tem mais dados. Ela faz um registro quase que espontâneo, pois tem um serviço de apoio que indica aos profissionais de saúde como agir em casos de intoxicação, não só por agrotóxicos, mas também animal peçonhento, planta, medicamentos. Então eles remetem à Fiocruz os casos, é espontâneo. E ainda assim é a fonte de dados sobre isso mais rica do Brasil. Os dados da Fiocruz sugerem uma média de um caso de intoxicação a cada 90 minutos, um quadro muito pior levando em conta a subnotificação. Calcula-se que para cada caso de intoxicação no Brasil existam 50 outros não notificados.
E partindo desses dados, é possível afirmar ser incontestável que os agrotóxicos são prejudiciais à saúde humana?
LB: Não há dúvidas. Mas os dados ainda são insuficientes, há muita subnotificação. O SUS, nas fichas dos pacientes, não informa, por exemplo, a profissão da pessoa intoxicada, o que seria fundamental para entender qual o universo que estamos tratando. Veja que o Mato Grosso é um estado que sozinho consome 20% de todo agrotóxico usado no brasil e o número de notificações é pequeno em relação ao número total de casos, então há um desnível entre a realidade e aquilo que é notificado. Os números que a gente tem já são muito alarmantes, mas ainda assim há uma subnotificação enorme.
Quando olhamos os mapas das pessoas intoxicadas por agrotóxicos de uso agrícola no Brasil, se pegamos por municípios, é visível, por exemplo, o Vale do São Francisco, que tem uma agricultura irrigada com fruta para exportação. Dá para ver as manchas do agronegócio. No Mato Grosso, quando você mapeia os municípios isso aparece. Uma parte disso está no Pequeno Ensaio Cartográfico Sobre o Uso de Agrotóxicos no Brasil, que publiquei pelo Laboratório de Geografia Agrária. Uma parte do meu trabalho de geógrafa é mapear essas informações. O mapa é uma ferramenta muito importante porque você consegue espacializar o fenômeno, consegue fazer perguntas para a realidade que você não faria sem mapear. E vou lançar em breve um Atlas do Uso de Agrotóxicos no Brasil, que é o próximo passo da minha pesquisa.
Foto: Cecília Bastos
Quando falamos nesses casos de intoxicação e morte estamos principalmente falando de pessoas que vivem no campo?
LB: Em geral sim, mas não só a população rural que é intoxicada, a população urbana também. Mesmo que a pessoa more e trabalhe na cidade, mas em áreas próximas de cultivos onde há pulverização, ela está suscetível. O professor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal de Mato Grosso, orientou um estudo sobre contaminação de leite materno com agrotóxicos. Alguns agrotóxicos ficam na gordura do nosso corpo, então uma forma não invasiva de mensurar a contaminação é através do leite. Descobriu-se que todas as mulheres pesquisadas, uma amostra importante de mães que estavam amamentando no município de Lucas do Rio Verde, tinham agrotóxicos no leite. Nenhuma delas trabalhava na área rural diretamente na agricultura. Apenas uma delas trabalhava na sede de uma fazenda, mas como empregada doméstica. Isso ilustra o quanto a população urbana, sobretudo das pequenas cidades, está suscetível. Além disso, muitas cidades do Brasil permitem no trabalho de jardinagem urbana o uso de agrotóxicos.
Há um novo projeto de lei tramitando para poder pulverizar inclusive áreas urbanas com agrotóxicos para poder eliminar os mosquitos vetores da dengue, chikungunya e zika. Isso é muito temerário. Os casos de microcefalia deram o start dessa comoção, quase uma histeria nacional em torno desse assunto. Isso tem ancorado o aumento do uso desses agrotóxicos em ambiente urbano. Todos esses venenos que são utilizados, o “fumacê”, são agrotóxicos. Tem malathion, Pyriproxyfen e fenitrothion, os três são cadastrados na Anvisa como agrotóxicos de uso agrícola e agora estão sendo utilizados na cidades para combater os mosquitos, quando na verdade temos um problema muito mais grave que é de saneamento urbano. Isso sim resolveria a questão dessa epidemia no nível em que ela se deu. E os estudos têm mostrado na verdade que esse uso tão intenso de veneno não é tão eficaz. Eficaz é saneamento básico.
É complicado justificar uma pulverização aérea nas cidades por conta disso. O último numero da Revista Fapesp mostrou que esses casos de microcefalia aumentaram tanto não porque eles aumentaram em si, mas porque até 2014 a notificação da microcefalia não era obrigatória, até então a gente não tinha dados. Como dizer então que os casos estão aumentando? Acho que isso dá o tom para entender um pouco o que está por trás desse alarme todo.
Maçãs com agrotóxico e depois de lavadas | Foto: Pedro Bolle / USP Imagens
Por que ainda não proibimos agrotóxicos que já foram proibidos em outros países, como os da União Europeia?
LB: Primeiramente, o lastro de não proibir é essa importância tremenda que a exportação das commodities tem na economia brasileira. Politicamente, isso é representado na bancada ruralista, do ponto de vista do Legislativo. Do ponto de vista do Executivo, temos uma ministra que é representante desse setor. A chamada Frente Parlamentar da Agropecuária soma mais da metade do numero total de deputados. Então é uma dificuldade muito grande. Uma coisa ruim da nossa lei de agrotóxicos é que nossos registros são por tempo indeterminado, o registro é ad eternum, não caduca. O ingrediente ativo pode vir a ser reavaliado, mas num processo movido pela sociedade civil ou pela comunidade científica nacional, mas não há uma reavaliação sistemática. Na União Europeia há. Eles estão neste momento às vésperas de votar a continuidade ou não do uso do glifosato, o herbicida mais vendido no Brasil. Grande parte dos cultivos transgênicos é resistente ao glifosato, então há uma venda casada da semente transgênica com esse agrotóxico. No ano passado a Organização Mundial de Saúde lançou uma nota dizendo que o glifosato é potencialmente carcinogênico.
Um exemplo muito claro de agrotóxico banido na União Europeia e permitido aqui é o acefato, o quinto ingrediente ativo mais vendido no brasil. Apesar de todas as indicações da Anvisa de que ele é neurotóxico, que pode ter efeitos sobre o sistema endócrino etc, continua sendo permitido. Outro exemplo é o paraquat. Acabou de ser feito o processo de avaliação, a Anvisa reconhece todo o perigo dele, mas continua permitido. Na China que é super permissiva do ponto de vista ambiental ele já é proibido e aqui não. Então é uma opção política, relacionada à pressão da bancada ruralista e das empresas de agrotóxicos como dos próprios empresários do agronegócio, que querem garantir a continuidade desse modelo.
Existe uma movimentação no Brasil para proibir a pulverização aérea, que também já é proibida na União Europeia?
LB: Tem a Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, uma campanha nacional da sociedade civil que tem como uma das metas principais o fim da pulverização aérea. Acho a pauta até tímida. A própria Anvisa, em todas as avaliações que faz dos ingredientes ativos, mostra o aumento da quantidade de mortes por câncer no Brasil. Ela reconhece que o avanço na utilização de agrotóxicos está relacionado a isso. A pauta dessa campanha é banir os banidos, que o que está proibido lá seja proibido aqui, quer eliminar a pulverização aérea. Essa pauta ainda é tímida e mesmo assim sofre uma tremenda resistência. O ideal seria uma agricultura sem agrotóxicos. É uma questão ambiental para a humanidade. Não estamos nem engatinhando nisso ainda.
O ideal seria uma agricultura sem agrotóxicos. É uma questão ambiental para a humanidade
Há um Projeto de Lei em tramitação na Câmara dos Deputados que centraliza no Ministério da Agricultura a avaliação dos agrotóxicos. Qual sua visão sobre a proposta?
LB: Os ganhos que temos no sentido de controlar ou banir os agrotóxicos têm a ver com uma postura que coloca em primeiro lugar a saúde pública, a saúde da população e ambiental. E isso, do ponto de vista político, está representado no Ministério do Meio Ambiente e, sobretudo, no Ministério da Saúde. O MAPA [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] está diretamente preocupado com a questão dos ganhos econômicos, a questão da saúde publica é secundária. Esse projeto do Covatti Filho já começa com os termos utilizados. Nossa lei de agrotóxicos reconhece o potencial venenoso desses produtos, por isso se chamam agrotóxicos, a lei usa essa palavra. Esse Projeto de Lei fala em defensivos fitossanitários, uma expressão eufemística que esconde o caráter perigoso por trás desses produtos. Tão perigoso que há o simbolo da caveira, o símbolo de veneno em todo rótulo. O retrocesso que esse projeto representa se for aprovado começa por aí. Tem outras questões fundamentais a respeito desse PL. A criação de uma comissão vinculada só ao MAPA, ainda que tenham cadeiras para representantes da saúde, do meio ambiente, não é tripartite como é hoje. Outro aspecto que merece ser comentado é que se poderá obter a receita do agrotóxico antes mesmo de haver praga, como se a gente pudesse ter a receita do antibiótico antes mesmo de ter uma infecção. Essa comparação nem é tão feliz porque agrotóxico é veneno, não remédio. E além disso, o projeto utiliza a expressão “risco inaceitável” para decidir pela proibição dos agrotóxicos, uma expressão que fragiliza a potência que o texto atual tem.
Foto: Pedro Bolle / USP Imagens
Mesmo hoje com os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente na regulação é difícil proibir agrotóxicos?
LB: É um poder tremendo. Há perseguição a dirigentes da Anvisa que se colocam contra. Não é simples. O poder econômico é tremendo, há uma pressão direta, ameaças.
Qual a relação entre transgênicos e o uso de agrotóxicos?
LB: Quando se tem uma agricultura orgânica, biodinâmica, agroecológica, essas formas de agricultura sem agroquímicos, há um manejo muito manual. Você consorcia várias culturas, que é como na natureza, onde não há homogeneidade no cultivo, sobretudo nos ambientes tropicais. O manejo é físico, é através da capina, um manejo em que não se usa algo que elimine quimicamente uma determinada espécie. Há trabalho físico, ou mesmo trabalho com maquinário, mas trabalho. Já quando eu tenho uma monocultura, um cultivo de soja, por exemplo, onde nasceria a soja nasceriam também outros vegetais, espontaneamente, porque o vento traz sementes etc. Se você pulveriza com agrotóxicos que matam tudo em volta e só resiste a soja isso demanda muito menos trabalho, é uma agricultura mais barata. Embora não seja desprezível o valor do veneno, em larga escala vale a pena, porque demanda muito menos mão de obra. Nesse pacote já se vende a semente tal da empresa tal e com ela já vende o glifosato dessa empresa. A semente da soja já é resistente a esse veneno, o resto todo morre.
A ideia de que os transgênicos demandariam menos agrotóxicos na prática não acontece. Pode usar menos de outros tipos, mas o herbicida é muitíssimo utilizado, inclusive aumentou o uso. De 2000 a 2010 aumentou mais de 155% a quantidade de agrotóxicos por hectare no Brasil. Isso também vem na esteira desse aumento muito grande dos cultivos de soja, cana. Se formos falar por cultivo, a soja sozinha responde por quase metade de todo agrotóxico comercializado no Brasil. O milho em segundo lugar, cana em terceiro.
Qual a relação entre o uso massivo de agrotóxicos e a estrutura fundiária do país?
LB: Essa é uma pergunta fundamental. O Brasil tem uma das estruturas fundiárias mais concentradas do planeta. Nos últimos anos, ao invés do Brasil ter feito um pacto no sentido da reforma agrária, da soberania alimentar, a gente caminhou num outro sentido. O número de assentamentos diminuiu muitíssimo, e avançou o agronegócio. O que está por trás desse uso massivo de agrotóxicos no Brasil são esses cultivos vinculado ao agronegócio. É muito mais fácil os insetos enveredarem numa monocultura do que numa agricultura toda consorciada, com variedade de alimentos. Então vai ser usado mesmo, é praticamente inevitável que a monocultura utilize agrotóxicos, é quase impossível produzir em larga escala sem agrotóxicos, por causa dessa homogeneidade tremenda. Os pequenos agricultores usam também? Uma parte sim, mas não é isso que explica esse volume imenso. Ele está vinculado a esse modelo agrário. A concentração fundiária, a destinação de grande parte da nossa terra para o agronegócio é o que explica essa tremenda utilização de agrotóxicos. Se tivéssemos seguido no caminho da reforma agrária, no sentido da agroecologia, da soberania alimentar, teríamos uma outra opção de inserção no mundo.
O Ministério da Saúde lançou
recentemente o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações
Expostas a Agrotóxicos. Ao longo de suas 141 páginas é possível
compreender a realidade dos agrotóxicos no Brasil, desde a sua
comercialização, sua aplicação na agricultura e os reflexos nas
populares do campo, das águas e das florestas.
O material é uma grande compilação de
dados e análises sobre o uso de agrotóxicos, intoxicações e suas
decorrências, como suicídios. Aborda ainda sobre a política de
vigilância das populações expostas, nos municípios prioritários e
grandes regiões, bem como, a contaminação das águas e do meio ambiente.
Para as populações do campo, das águas e
da floresta, o relatório traz à tona a realidade desses sujeitos, bem
como das populações urbanas, e a chocante realidade imposta por este
modelo de agricultura, o Agronegócio, que degrada não somente os
recursos naturais, mas também os sujeitos.